quinta-feira, 24 de julho de 2008

Queria um manual de instrução...


Um manual de instruções sobre como VIVER. Como levar a vida em meio a tanta coisa que contraria a dinâmica da vida. Como continuar vivendo no meio de pessoas que pouco se importam com suas vidas, e muito menos com a vida dos outros. Como se comportar e como se sentir diante de gente que sabe que não se deve beber e dirigir, mas mesmo assim o faz e acaba tirando a vida de outras pessoas na próxima esquina. Como continuar, meu Deus, quando a vida se tornou algo banal, algo que pode ser usado e tirado de você sem que você permita! Como prosseguir, se matar, roubar, trapacear, xingar, ofender e bater tornaram-se coisas tão comuns e tão normais! É como se a gente tivesse deixado de ser gente e tivesse se transformado em um bando de robôs feitos de metal, sem coração, sem dignidade, sem alma, sem essência, sem nada. Acho que é por isso que eu ando a procura de um manual de instruções. Porque temos lidado com robôs cotidianamente. E não dá pra lidar com máquina sem ter um manual.
Nem chegamos ainda na metade da expectativa de vida do ser humano e já vivemos sem expectativa... Olha pra gente! Meu Deus! Isso é grave! É triste! Em outras palavras, palavras mais duras e fortes, tem dia que a gente não suporta viver. Tem dia que a maior dádiva do mundo, a nossa vida, se torna um jugo pra gente. E principalmente, como tem sido difícil suportar a vida de algumas pessoas. Incomoda, machuca, destempera e desgasta a nossa. Quer dizer, passei a vida inteira fazendo o máximo para não ser fardo na vida dos meus pais, avós, professores, superiores religiosos e chefes, e o que eu percebo é que ninguém se importa em se esforçar para não ser fardo na minha. Minha mãe não me disse que a vida era dura desse jeito. Hoje eu entendo que era uma realidade que ela mesma fingia não enxergar. Todo dia eu gritava dentro de mim: "por que minha mãe não me avisou que era assim?" Essa pergunta cotidiana ecoa lá no fundo, às vezes em tom de mágoa. Mas, entendo também que talvez ela estivesse querendo me proteger; ou seja, errou tentando acertar. Ou talvez ela não tenha dito porque não tinha o tal manual... e sabe por que ninguém tem o tal manual? Porque ele não existe! Ou, quem sabe, ainda não está pronto. Manuais e protocolos existem apenas para ritos específicos e exatos. E de exata a vida não tem nada. Nem a hora de começar, nem a hora de terminar. Nem os eventos intermitentes, nem os próprios personagens que os interpretam. Por isso a gente tem que viver um dia de cada vez, aproveitando cada minuto e tentando escrevendo o nosso próprio manual.
Um manual de intruções sobre como sobreviver nesse campo de batalha que a vida tem sido pra gente. Sobre como sobreviver tendo que presenciar tanta droga, tanta corrupção, tanta fome, tanta miséria, tanto ódio, tanta inveja, tanta hipocrisia, tanta mentira, tanta ganância... como sobreviver vendo as famílias ruirem, tantos pais matando filhos, seja fisicamente ou por falta de amor... ou vendo tantos filhos matando os pais, seja fisicamente ou por desgosto e preocupação... vendo o mundo lutar a favor do aborto e da eutanásia... vendo gente catando lixo pra comer... vendo gente morrendo na fila do SUS... vendo a gente cada dia mais distante de Deus... vendo o planeta ser permeado de contra-valores. E eu aqui, me sentindo impotente, de pés e mãos atadas. Sem saber o que fazer. Construindo meu próprio manual que, diga-se de passagem, não é o correto. Mas é aquele que tem me ajudado a sobreviver.
Paz e bem!

Um comentário:

Clenir Viana disse...

Se encontrar o "manual" me avise. Passando para dizer que sinto saudade. Amo vc